segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Inacabada


Nenhuma som sai da minha boca,                    
mas todas as palavras
estão em meus olhos,
agitam minhas veias,
embaralham minhas idéias,
misturam memórias e previsões.

A dor, quando muita, emudece.

Mas o que tem que ser dito,
não se esquece.
E um dia sairá em forma
de grito, com sabor de lágrima.
E vai doer no seu ouvido esse lamento,
em forma de canção inacabada.


sábado, 11 de fevereiro de 2012

O prazer pela leitura


Incentivar crianças à leitura é essencial. A leitura para mim desperta a criatividade, permite conhecer novas idéias, culturas e até lugares. Sim, é possível viajar através da leitura. Alguns autores descreve locais com tal precisão, com tantos detalhes, que é como se estivéssemos lá.
Desde que me entendo por gente, gosto de ler. E o incentivo de algumas pessoas foi importantíssimo para que eu descobrisse esse prazer. A primeira delas é minha mãe, Maria Aparecida Ribeiro, que até hoje, aos 85 anos, lê com uma frequência que, para muitos, é espantosa. Em média, lê dois livros por semana. E ela, devido as circunstâncias, frequentou a escola só até o quarto ano primário, que não chegou a concluir.
A segunda, que não posso deixar de mencionar, é a professora Isaura Ana de Freitas, quando lecionava na escola Antonio Giovani Lanzi, na Vila Paraíso. Isaura não só incentivava a ler como também a escrever. E como era bom quando a professora elogiava uma redação! Às vezes ela até pedia para ler em voz alta. Sentia vergonha, mas era uma sensação muito boa.
Outra pessoa que colaborou muito para que eu gostasse mais e mais de ler é Vanelli, hoje pastor Vanelli. Sim, quando o conheci ele era o responsável pela Biblioteca Municipal, frequentada por mim "religiosamente", consdirando que, desde aquela época, não dispunha de dinheiro para comprar livros.
À época, devo ter lido praticamente todo o acervo. Sim, eu lia em média, cinco livros por dia: romances, poesias, contos, ficção, filosofia, psicologia, arte, música, teatro. E Vanelli até "palpitava" sobre as minhas escolhas, como quando, entre os 13 e 14 anos, li "O processo", de Franz Kafka ou "Assim falava Zaratrusta", de Nietzsche.
E foi assim, lendo e com o incentivo da professora Isaura Ana de Freitas, que comecei a escrever. De início, escrevia a pedido de amigas, "cartas" transcrevendo o que elas gostariam de dizer a alguém. Depois comecei a escrever poesias. Participei de um concurso realizado pela então Editora Shogun, do Rio de Janeiro, no qual poesias de minha autoria foram classificadas e, como prêmio, publicadas em uma coletânea. Outras também me renderam premiações.
Muito do que escrevi já se perdeu. Alguns textos joguei fora. Outros se perderam antes que eu fizesse backup no computador. O que me rendeu broncas severas de minha mãe à época. Pois foram elas, as poesias, que indiretamente me levaram a escrever em jornal, onde tive a honra de conhecer pessoas que me além de terem me dado essa oportunidade, como os jornalistas Luis Ricardo Alves, Marta Augusta de Oliveira e Valter Abrucez, também me incentivaram muito. 
A todos vocês, meus agradecimentos. Não sou expert em nada. Mas continuo uma leitora voraz e gostando de escrever. Seja lá sobre o que for, como este texto, por exemplo, através do qual presto uma pequena homenagem às pessoas mencionadas, com quem aprendi muito.

É melhor do que nada



Gosto de Carl Gustav Jung. Principalmente de alguns de seus conceitos como sincronicidade, que difere da coincidência, pois não implica somente na aleatoriedade das circunstâncias, mas sim num padrão subjacente ou dinâmico que é expresso através de eventos ou relações significativos.
Para Rocha Filho (2007), inclusive o "insight" pode ser um fenômeno sincronístico, assim como muitas descobertas científicas que, de acordo com dados históricos, ocorreram quase simultaneamente em diferentes lugares do mundo, sem que os cientistas tivessem qualquer contato.
Acredita-se que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão. E que essa compreensão poderá surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava o nome de "insight".
Costumo ter muitos "insights", talvez porque gosto e procuro olhar muito para dentro de mim mesma. Reservo um tempo específico para esta atividade. E acabo fazendo descobertas bem interessantes. Não só a meu respeito, mas também a respeito de outras pessoas e de coisas. Encontro respostas para muitas das minhas indagações. Algumas vezes a resposta encontrada dói.
Ainda assim, reafirmo considerar válida a coragem de recomeçar. A coragem de continuar acreditando, sobretudo porque a dor faz parte do amor, da vida, de qualquer processo de crescimento e evolução.
Que me venha a dor impagável do aprendizado que é viver. Que me venha a dor inevitável à qual as tentativas nos remetem. Que me venha logo, sempre e intensa, a dor do amor. E nesta exata medida, prefiro a tristeza da partida a nunca ter me esparramado num abraço. Prefiro o amargo sabor do “não” a nunca ter tido coragem de sair da dúvida. Prefiro o eco ensurdecedor da saudade a nunca ter provado o impacto de um beijo forte e apaixonado, daqueles que recolocam todos os nossos hormônios no lugar.
Prefiro a angústia do erro a nunca ter arriscado. Prefiro a decepção da ingratidão a nunca ter aberto meu coração. Prefiro o medo de não ter meu amor correspondido a nunca ter amado ensandecidamente. Prefiro a certeza desesperadora da morte a nunca ter tido a audácia de viver com toda a minha alma, com todo o meu coração, com tudo o que me for possível. Enfim, prefiro a dor, mil vezes a dor, do que o nada.
Para mim, não há algo mais terrível e verdadeiramente doloroso do que a negação de todas as possibilidades que antecedem o “nada”. E já que a dor é o preço que se paga pela chance espetacular de existir, desejo que você ouse, que você pare de se defender o tempo todo e ame, dê o seu melhor, faça tudo o que estiver ao seu alcance, e quando achar que não dá mais, que não pode mais, respire fundo e comece tudo outra vez.
Porque posso desistir de um caminho que não seja bom, mas nunca de caminhar. Posso desistir de uma maneira equivocada de agir, mas nunca de ser eu mesma. Posso desistir de um jeito falido de se relacionar, mas nunca de abrir meu coração.
Portanto, que venha o silêncio visceral que deixa cicatrizes em meu peito depois das desilusões e dos desencontros. Mas que eu jamais deixe de acreditar que daqui a pouco, depois de refeita e ainda mais predisposta a acertar, vou viver de novo, vou doer de novo e sobretudo, vou amar mais uma vez. E não somente uma pessoa, mas tudo o que for digno de ser amado. Deus permita que assim seja!


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sob o efeito da lua cheia

Muitas das idéias erradas sobre os efeitos gravitacionais da lua sobre as marés, assim como vários outros conceitos lunares errados, parecem ter sido gerados por Arnold Lieber em The Lunar Effect (O Efeito Lunar) (1978), republicado em 1996 como How the Moon Affects You (Como a Lua Afeta Você). Leiber incorretamente previu que um terremoto catastrófico iria atingir a Califórnia em 1982, devido ao alinhamento coincidente da lua e dos planetas.
Finalmente, muitos acreditam em mitos lunares porque os ouviram ser repetidos muitas vezes por membros da mídia de massas, por policiais, enfermeiras, médicos, assistentes sociais e outras pessoas influentes. Assim que muitas pessoas acreditam em alguma coisa e recebem uma quantidade significativa de reforço comunal, elas ficam bastante seletivas sobre o tipo de dados aos quais elas prestarão atenção no futuro.
Se alguém acredita que durante uma lua cheia existe um aumento nos acidentes, esta pessoa irá notar quando acontecerem acidentes durante uma lua cheia mas ficará desatenta à lua quando os acidentes acontecerem em outras ocasiões. Se algo estranho acontecer e houver uma lua cheia no momento, uma conexão causal será assumida.
Se algo estranho acontecer e não houver lua cheia, nenhuma conexão será feita, mas o evento não será visto como contra-evidência para a crença na causalidade da lua cheia. Lembranças se tornam seletivas, e talvez mesmo distorcidas, para favorecer uma hipótese da lua cheia. Uma tendência de fazer isso ao longo do tempo fortalece a crença de uma pessoa na relação entre a lua cheia e uma enormidade de efeitos não relacionados.
Entretanto, cá estou ainda admirando a lua cheia. Quem nunca se com ela? E olhando-a não deu asas a devaneios? Quem não viveu momentos inesquecíveis fascinado pela sua mágica presença no céu, brilhando feito uma deusa prateada?
Saibam: quem nunca esteve em uma bela e exuberante cachoeira, em meio à natureza, sem vestígios de luz artificial, com certeza não pode imaginar a sensação que esta experiência traz. É mágica!
Para mim, que cresci na roça, em Minas Gerais, a lua cheia tem um significado especial. Não me lembro de ter visto tanta beleza quando sentada embaixo de uma árvore frondosa (sassafras), na grama ou em tamborete (para quem não conhece, tamborete é um banquinho sem escosto e descanso de braço, feito de madeira, com assento de couro de vaca) "viajava" com o olhar fixo em seu brilho. Como diz o grande compositor Almir Sater, "viola em noite enluarada, no sertão é como espada". E é mesmo. Palavra de mineira.
Aqui mesmo, em Mogi Guaçu, tenho ótimas lembranças de noites de lua cheia. De um tempo onde jovens se reuniam e faziam serenatas. Ou simplesmente sentavam na praça para tocar violão e cantar boa música. Tempo bom!
José Cláudio, o Cacá, morador de São Paulo, faz uma bela homenagem à lua, que transcrevo e compartilho com vocês abaixo:

A lua hoje me atraiu
Feito uma sereia dos céus
Nesta madrugada sem nuvens véus
Eu e todos que na rua vi não houve quem resistiu

A lua cheia é tão bela e inspiradora
É tão lasciva, sedutora
Sua cumplicidade de luz que a tantos encanta
Infiel do universo e fiel com quem dela se espanta

A lua cheia é tão inspiradora e bela
Que, na falta de alguém,
Na falta de algum amor,
Me apaixono mesmo é por ela.

Como se pode constatar, a lua cheia não inspira apenas os grandes compositores, os apaixonados, os solitários, os saudosistas. Independente da controvérsia se exerce ou não poderes sobre marés e pessoas, o fato é que, como parte do universo, acredito que atraia povos de todo canto, de todas as idades. Boa inspiração.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Você tem medo de quê?

Elisa Corrêa, em um texto escrito para a revista Vida Simples, trata de um tema interessante, em minha opinião. Ela começa com relato sem especificar se é dela própria e de alguma outra pessoa que diz: “Faz cinco noites que não durmo. Ou durmo assim meio sem dormir, sono interrompido, olhos abertos às 4 da manhã. Tenho sentido a cabeça muito cheia de coisas, perturbada por uma sucessão de histórias do passado e sonhos para o futuro que mudam de lugar como num caleidoscópio. Meu estômago queima, mas não sinto fome, meu pescoço dói sem qualquer movimento. Sinto falta de energia, como se nas minhas veias corresse uma mistura de água com açúcar. Tudo isso porque vou mudar. De cidade, de trabalho, de contexto. Deixar para trás rostos conhecidos, abraços garantidos, portas para bater. Estou com medo do que me espera e do que não me espera também. De ir e querer voltar, de partir e não chegar, de tentar e não conseguir.
Medo todo mundo tem. Porque o medo é um sentimento natural de quem está vivo e tem a função de alerta, de avisar o organismo de um perigo ou ameaça e provocar reações de proteção. O problema é que, diferentemente dos animais, temos a consciência de que um dia iremos morrer.
Do medo da morte derivam muitos medos que nos acompanham desde sempre e os que habitam nossa alma nos dias de hoje. Há quem diga que a nossa é a Era dos Temores. Temos medo de tudo: do cigarro, da gordura trans, do aquecimento global. Das notícias ruins, de falar com um estranho, da crise mundial. De ser assaltado, de perder o emprego e até mesmo de ser feliz.
Não vamos falar aqui de medo de barata, de elevador ou de avião. Nem dos eternos medos da velhice e da solidão. Talvez você tenha outros medos, assim como eu. Mas para todos eles o remédio é um só: enfrentar e aprender que o importante não é deixar de ter medo, mas sim tocar a vida apesar dos medos. E você, tem medo de que?

Resiliente eu?




Psiquiatras afirmaram que sou resiliente e plástica. Fiquei curiosa. Não sabia até então se estava recebendo elogio ou xingamento. Depois descobri que, vindo de tais profissionais, eram elogios. Uma professora do curso de psicologia me explicou. Não exatamente com estas palavras, mas entendi que ser resiliente é ter a capacidade de aprender, de adaptar-se. É dispor-se para a mudança.
E plasticidade é a capacidade que o cérebro tem em se remodelar em função das próprias experiências, reformulando suas conexões de acordo com as necessidades e fatores do meio ambiente, tornando-a mais eficaz. 
Já uma psiquiatra garantiu: o que busco e acredito não existe. Seria eu então portadora de Transtorno Dissociativo de Identidade, Psicopata, Esquizofrênica? Sei lá. O fato é que já fui rotulada tantas vezes que não me importo mais. Busco autoconhecimento. Busco o melhor de mim e do próximo. Entendimento. Equilíbrio. Paz. Satisfação interior. Busco amor. Aceitação, Alegria. Compreensão. Harmonia. Então nada disto existe?
Pelo menos foi útil perceber que psiquiatras masculinos têm a meu respeito uma visão diferenciada de psiquiatras femininas. Ou será eu que me expresso de maneira diferente a cada um deles? Eles tem respostas. Eu não. Continuo com indagações a respeito de mim.
Considero-me um ser humano. Se normal ou não, deixo a critério de outros.
O que posso dizer com certeza a respeito de mim é que não sou cruel, homicida, dissimulada. Aceito as diversidades. Sinto compaixão. A dor dos outros. Não tenho tendências ou pensamentos suicidas. Não sou explosiva. Mas tenho meus limites de cansaço, de paciência. Creio em Deus. Mas confesso, nem na mais tenra infância consegui acreditar em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa ou Bicho Papão.
Entretanto, acredito na energia do Universo. Na beleza e na força da natureza. No poder do pensamento. Das palavras. Acredito em sentimentos. Em ações que podem mudar circunstâncias. Pois percebo que a maioria das coisas é efêmera. Por este motivo tenho dificuldade em lidar com os conceitos de "para sempre", "nunca mais". A vida é mudança. Hoje, não sou exatamente a mesma de ontem. E não serei a mesma amanhã. Permanecerá, é claro, a minha essência. Mas não os mesmos pensamentos, sentimentos, sensações, desejos. De alguma maneira serão alterados. Para melhor, óbvio. É uma batalha diária esta.
Estimulante. Intrigante.
Da família também carrego rótulos: sonhadora, exagerada, extremista, medrosa, folgada, egoísta, esotérica, estranha. Inconsequente. Às vezes irresponsável. Não com os outros. Comigo, justificam, explicando que não me preocupo com o futuro. Não busquei trabalho estável. O máximo que consegui neste sentido foi passar em curso e ser funcionária pública estadual por um ano. Ou nem isso. Portanto, dificilmente conseguirei a tão esperada aposentadoria. Esperada por quem? Não TENHO nada: casa, moto, carro, marido, filhos, dinheiro, tradição. Inútil tentar contra-argumentar. Não SOU estável.
Amigos? A maioria deles - e são poucos - evitam falar de mim diretamente comigo. Entretanto, grande parte é unânime em afirmar que sou antissocial. Não tenho ambição. Não sou vaidosa. Também não é verdade. Estou antissocial por circunstâncias diversas. No mais, não sei exatamente como me vêem. Quem sabe me digam através desse blog. Desde que se identifiquem, é claro. Os verdadeiros amigos sei que me aceitam. Forte, frágil, carente, feliz, triste, entusiasmada, desestimulada. Enfim, são ciclos. Fases que vou vivendo com a ajuda e a presença indispensável de familiares, amigos e de profissionais como psicólogos e psiquiatras capacitados para auxiliar aqueles que, como eu, buscam se conhecer melhor.